segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Texto décimo terceiro

Mergulhado nos recônditos aprazíveis do Portugal profundo, vi-me, durante uma semana, privado do acesso à internet. Entre outros constrangimentos, a circunstância impediu-me de manter o compromisso da publicação semanal neste blogue, que é a forma periódica que tenho de dizer aos meus leitores que estou vivo e penso neles,
Ligado, todavia, ao mundo da “terceira vaga” pela TDT, assisti na televisão à notícia do décimo aniversário do Skype e de todas as suas virtualidades de comunicação visual e imediata. A voz de locução evocava as cartas e os bilhetes postais como ecos difusos de um passado tornado invisível pela dobragem da esquina de uma evolução tecnológica irreversível e sedutora.
Diante do meu computador portátil, no qual exerci, durante aqueles dias, uma acrobacia de escrita literalmente «sem rede», digitei este texto com uma sensação mista entre a purificação e o desamparo. Para além da nostalgia histórica da “galáxia de Gutenberg”, revisitei a memória das cartas adolescentes que escrevi, e que enviei esperando resposta. E do tempo que escorria em tudo isso. E do que crescia em mim durante esse tempo. E do que se perdia nessa duração. As cartas eram segredos guardados na abstração de um envelope selado que os comunicava com uma lentidão que se arriscava a desatualizá-los. O Skype é a eficácia de comunicação numa partilha de tal modo imediata e concreta e aberta que não garante o segredo. Porventura, nem deseja.
Para além do seu potencial de realização, os meios de comunicação ligados à alta tecnologia invocam, atualmente, em sua defesa, uma sustentabilidade que parece projetá-los numa “quarta vaga”: a dispensa de suporte de escrita permite evitar o desbaste de florestas (compensado, entre nós, por recorrentes, trágicos e criminosos incêndios), garantindo viabilidade enquanto não houver esgotamento dos recursos energéticos.
Que deveremos ainda esperar no futuro, quando todo este presente for deixado para trás, na dobragem de esquina da evolução inexorável?

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