sexta-feira, 16 de maio de 2014

Conversando... sobre uma estreia

Há textos assim: desvendam-se profundamente na clareza com que nos desvendam; dizem-nos brutalmente na nudez em que se dizem.
Há escritores assim: escondem-se na frágil gaiola dourada das palavras robustas que tecem; revelam-se nessa urdidura inocente e necessária. Inocente porque necessária. E expõem-nos, escancaram-nos impiedosamente naquilo que escondemos, no modo como o escondemos.
Cassiopeia, a nova peça escrita por Miguel Graça, a cuja estreia tive o privilégio de assistir, é assim. Mas é muito mais. É uma encenação de Pedro Caeiro suficientemente corajosa para servir o texto sem nunca ceder à tentação mesquinha de servir-se dele, num arrojo minimalista de que resulta uma plenitude esmagadora. É um trabalho dos atores (David Esteves, Joana Ribeiro Santos e Vítor Silva Costa) que se alimenta da escrita a que se entrega, numa generosidade sacrificial, num ritual de talento e suor.
O resultado de tudo isto é uma obra de arte de uma consistência dolorosa e libertadora. Pelo menos, foi assim que eu a vi.

A não perder. Só até domingo. No Teatro Taborda.


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