quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Texto vigésimo oitavo

Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Uma pequena(?) história de insondável profundidade. Onde o enredo é mera superfície espelhada para um abismo de análise do ser humano: os sonhos, as inseguranças, as ambições insatisfeitas, os falsos refúgios, a cobardia das decisões não tomadas, a esterilidade da resignação às convenções.
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Lemos o livro e é como se ele nos lesse a nós, folheamo-lo e ele devora-nos, aponta-nos cruelmente o dedo suave com que viramos as páginas. Porque nós estamos ali, irreprimivelmente ali, naquelas personagens intemporais do vitorianismo tardio da Londres dos anos vinte. Estamos na chama anestesiada de Clarissa Dalloway, nas amachucadas interrogações de Peter Walsh, no alívio ridículo de Hugh Whitbread e no êxito social de sir William Bradshaw. Estamos na revolta de Lucrezia Smith e na conversão desidratada de Sally Seton. E na correção cinzenta de Richard Dalloway. E também (assustadora constatação!) na tortura sem saída de Septimus Warren Smith.
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Uma angústia que se apodera de nós ao longo da leitura, porque já morava em nós antes dela. Porque é a angústia do ser humano em busca de sentido, em busca de si próprio, em busca de um sentido em si próprio. Precisamos da angústia que nos alimente a luta para nos livrarmos dela.
Mrs. Dalloway. Virginia Woolf à procura de uma saída.

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