sábado, 6 de dezembro de 2014

Texto trigésimo quarto

Teatro.
Escrever um texto dramático é buscar a Palavra, reduzi-la a palavras sepultadas no leito da escrita, esperar os corpos e as vozes que as ressuscitem. É um esforço lacunar, a noção humilde de ser o elo primário de uma cadeia transcendente, de cujo sortilégio poderá resultar a obra de arte. É forjar, com as ferramentas da escrita, uma matéria-prima, rude minério que valha a pena ofertar à alquimia do palco, onde, vertido em oiro, deixe de pertencer a quem o dá, sem que chegue a ser possuído por quem o recebe.
Teatro.
Representar uma peça de teatro é aceitar o sacerdócio de um rito onde se permanecerá sempre aprendiz. É irradiar uma força que se encontra no íntimo, oriunda de algo maior, distante para dentro, inacessível na sua plenitude. É expor-se, corpo presente aos olhares, espírito nos antípodas da exibição. É assumir-se na verdade possível, para assim poder exprimir, numa liturgia de vivificação, as palavras adormecidas que buscam dizer a Palavra.
Teatro.
Assistir a uma peça de teatro é comungar do processo criativo, receber o tesouro de mãos abertas, cerrar os punhos na dor do entendimento feliz que ele suscita, estender os braços na partilha urgente a que ele impele. Nenhuma outra arte espelha a vida tão cruelmente, nenhuma a transmite de modo tão inexorável. Porque ela própria é vida: gerada na ideia que lhe é alma, consubstanciada no texto que lhe é matéria, existente na duração do trabalho dos atores que lhe é história. E, findo o seu tempo, herdada na memória de cada espetador que lhe é sucessão.
Teatro. O Poder e o Desejo.
Em janeiro de 2015, a possibilidade de reunir autor, atores e espetadores. E fazer acontecer vida.
Vai valer a pena!



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