domingo, 31 de maio de 2015

Texto quadragésimo terceiro

De repente, a surpresa. Um relance de olhos, o vislumbre da tua presença. A transcendência de ver-te na humana convicção da tua ausência. Uma aparição. Não te esperava, desejava-te na aparente intransponível distância. E, porque te desejava, vieste. Uma aparição.
Num repente, a beleza. No abalo de ver-te, a firmeza de me perceberes, a doçura da tua intenção plasmada no sorriso luminoso com que saudaste a perplexidade regalada do meu olhar. E o meu espanto entendeu logo a tua generosidade, tão de súbito como a tua ternura se deixou abraçar pela minha emoção. O belo é invisível, fulge na empatia oculta dos corações que se estreitam. O belo é indizível, grita silêncios de eternidade acima dos ruídos ocos da mera eloquência em que às vezes nos enganamos.
Num rompante, a certeza. Estamos juntos. Vieste porque estavas longe, vieste porque não estás longe. Chegaste num regresso do qual partes de novo, para me dizeres que ficas comigo nessa distância que eu entendo. É esta compreensão que nos estreita, porque, no teu desejo de proximidade de mim, é de ti próprio que não tens direito de afastar-te.
Surpresa, beleza e certeza. Na lonjura das distâncias medidas, há uma vizinhança de cumplicidade imensurável. De família. De amor.

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