terça-feira, 9 de junho de 2015

Texto quadragésimo quarto

Porque olhar-te é gritar o amor que as palavras falham, ocas demais para a grandeza de que são mensageiras. Não há invólucro que possa forrar o ilimitado, nem atilho que prenda o eterno num embrulho de tempo.
Porque ser olhado por ti é sucumbir ao derrame da insuportável verdade. O imenso fulgor da tua essencial beleza queima a fraqueza dos meus olhos pedintes, jorra-me em lágrimas de um gozo cego da luz de ti.
Porque acordar ao teu lado é um sobressalto de paz indizível. É saborosa demais esta identidade de casulo do segredo das respirações só nossas, do entrelaçamento dos odores indisfarçados, da epidérmica colagem das emoções trazidas do íntimo.
Porque adormecer contigo é ressurreição em vida. Há um consolo de subsistência no longo prazer fugaz de largar as pressas e tensões que me esfaimam em morte quotidiana prolongada, há um mergulho de eternidade no prolongado instante de relaxamento sem medida em que se transcende a banal existência enterrada no seu peso numa leveza que a ressurge para um sentido maior. Talvez único.
Porque és tu.

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