domingo, 13 de setembro de 2015

Conversando... sobre Aquilino Ribeiro

Aquilino Ribeiro.
Nasceu em 13 de setembro de 1885. É um dos nomes maiores da literatura portuguesa, embora (que eu saiba!...) nenhum currículo escolar o mencione. Trabalhou as letras como uma lavoura artesanal: semeando imagens, enxertando regionalismos, podando a sintaxe e colhendo inovações semânticas. Elevou o elemento rústico da língua portuguesa a um estatuto de obra de arte. E disse-nos como ninguém.
Posso afirmar que a minha escrita cresceu no deslumbramento da sua, a consciência da minha pequenez formou-se na contemplação da sua grandeza.
Em jeito de homenagem, deixo aqui a primeira citação que me lembrei de procurar (terá sido a primeira leitura que fiz dele?...): os parágrafos iniciais da novela O Malhadinhas. Para ler e saborear (e admirar a atualidade).

Quando comecei a pôr vulto no mundo, meus fidalgos, era a porca da vida outra droga. Todas as semanas contavam dias de guarda e, por cada dia de guarda, armava-se o saricoté nos terreiros. Não andaria Nosso Senhor de terra em terra – eu cá nunca me avistei com ele – mas a verdade é que a neve vinha com os Santos e as cerejas quando largam do ovo os perdigotos. Bebia-se o briol por canadões de pau até que bonda. Um homem mesmo com os dias cheios tinha pena de morrer.
Não tenho cataratas nos olhos, ainda que me hajam rodado sobre o cadáver quase dois carros de anos, mas os dias de hoje não os conheço. Ponho-me a cismar e não os conheço. E, quanto mais cismo, mais dou razão ao Miguelão da Cabeça da Ponte, que falava como livro aberto, o grande bruxo. Muitas vezes lhe ouvi dizer quando estava de boa lua, o que nem sempre assucedia:
─ Tempos virão em que o governarão as terras vãs e os filhos das barregãs.

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