domingo, 24 de janeiro de 2016

Dizer a imagem 11 - Relógio

Relógio.
Os elos desfocados da retorcida corrente são impotentes para ofuscar o brilho do mostrador barroco. Barroco na excessiva ornamentação do seu espelho, no rendilhado da moldura que encaixa o vidro como vitrina. Barroco no tenebrismo de onde surde todo o precioso conjunto, irradiando um fulgor matemático de contagem.
Relógio.
São barrocas também as palavras que dizem o delicado objeto, como é barroco o tempo que ele nos diz: um rigor medido em ponteiros giratórios sobre um círculo de marcas, uma aparência deslizante mascarando um sobressalto de entranhas. Um assomo de ordem sobre a bruma dos mistérios do ser.
Relógio.
Um mecanismo de intenções exposto na arte de um mostrador. E os ponteiros inexoráveis: o que somos do que já não, o que sonhamos no que ainda talvez. Existência e essência. Tudo.
Num relógio.

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