domingo, 11 de setembro de 2016

Texto sexagésimo oitavo

Há uma inteligência poética: um olhar colorido e diferente, a perceção da realidade como uma floresta de símbolos.
Há uma crença que nos mina por dentro: a formulação de um sentido para a existência ou a descoberta dele, uma noção de sobrevivência e destino. Uma utopia, necessariamente, que nos permite navegar num mundo que não encaixa.
Há uma vontade de gritar por escrito: um amor ao desenho das palavras e à sua alma, um embalo quente no eco da sua conjugação, que nos consolida em tudo o que nos desmorona. A impossibilidade de não derramar em texto essa energia inteira que nos habita.
Há um desejo de ser lido: o reconhecimento de uma incompletude, a certeza de que só nos completamos naquilo em que nos prolongamos nos outros, os leitores, que se acrescentam daquilo que bebem de nós.
Há uma necessidade de intervir: um punho fechado erguido em discurso na luta pela transformação do mundo a partir do homem, dos factos a partir da mente, das ideias a partir do coração.
Há um escritor. E a escrita à espera de.

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