domingo, 4 de setembro de 2016

Texto sexagésimo sétimo

«O fruto do silêncio é a oração. O fruto da oração é a fé. O fruto da fé é o amor. O fruto do amor é o serviço. O fruto do serviço é a paz».
Faço silêncio, calo os gritos interiores que me dispersam. Viro-me para dentro, ato a venda nos olhos que me descola a cegueira, mergulho na quietude que me encontra em mim.
O fruto do silêncio é a oração. Elevo-me nesta profundeza em que submerjo. Transcendo-me num face a face com o divino que em mim habita fora de mim. Percebo-me na alma de mãos postas, vejo-me a mim próprio mais do que eu mesmo. Vejo-me outro, o Outro em mim.
O fruto da oração é a fé. Acolho a Presença que me enche, aceito o Nome que me desvenda. Confesso-me crente no Ser que me justifica e resolve, a plenitude que me transborda, que me faz inteiro em mim e parte de um Todo além de mim. Que me dá sentido.
O fruto da fé é o amor. Vejo o sentido como um desafio que me projeta, uma expansão, a mão estendida num desejo de abraço rumo ao clamor de mil olhares sedentos. Um impulso que vem de dentro mas nasce fora, porque o Todo feito das partes grita na parte que se quer para o Todo.
O fruto do amor é o serviço. Largo a correr ao encontro, semeio um trilho de brasas que me fere os pés, não me deixa parar em mim. Pulverizo-me em gestos desde este núcleo de transcendência que me unifica. Centrado no Outro em mim, descentro-me para o Eu de cada outro.
O fruto do serviço é a paz. Encho-me nesta troca que me esvazia de tudo o que sou, foco-me nela como única verdade que me salva. Porque sou feito do que busco no outro, entrego-lhe o que me falta para ser mais eu. E sinto a tranquilidade expandir-se à minha volta. Alheio ao ruído, surdo aos gritos interiores que me dispersam, repouso no aconchego da dádiva, no sorriso da partilha. Na respiração profunda quieta da missão cumprida. No silêncio. 
O fruto da paz é o silêncio. E tudo recomeça.

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